O poder de criar consciência
Assistir e ouvir a si mesmo talvez seja uma das coisas mais desconfortáveis que existem. Mas é só quando a gente se enxerga e se escuta que evoluímos.
Sabe quando você está interagindo com alguém que tem um vício de linguagem que, depois que você percebe, não consegue deixar de prestar atenção? Um professor, um palestrante, um colega de trabalho, um entrevistado.
Aquilo toma a sua mente e você se fixa em reparar o número de vezes que a pessoa repete a infeliz palavra ou expressão.
Será que ela sabe que está repetindo a mesma palavra 10 vezes por minuto?
Será que sabe que estamos todos da audiência presos nisso?
Quando ela vai parar?
Tenho certeza que já aconteceu com você.
Enquanto os diversos pensamentos surgem, perdemos a maior parte do conteúdo que está sendo dito. Uma pena. Para todos os envolvidos na dinâmica mas, principalmente, para o emissor.
Mas sabe o que é pior?
Quando descobrimos um vício de linguagem verbal ou corporal em nós mesmos… Meu deus, será que sempre falei assim? 🤯
Foto de Ben White na Unsplash
É horrível, é agoniante, mas é o primeiro passo para melhorarmos a nossa comunicação. Quantas vezes você teve a coragem de se gravar e assistir repetidamente?
Assistir e ouvir a si mesmo talvez seja uma das coisas mais desconfortáveis para a maioria de nós. Mas é só quando a gente se enxerga e se escuta que evoluímos.
Somente quando conhecemos nossos pontos fracos, conseguimos criar um plano. É por isso que um bom processo de mentoria passa por prática, feedback e autoavaliação. Para evoluir a comunicação, o caminho é o mesmo.
Quando falamos de comunicação, a maioria das pessoas quer começar pelo fim: técnicas de oratória, storytelling, domínio de palco. Mas nada disso adianta se o emissor não tem consciência do próprio padrão.
Sem consciência, não há clareza. Sem clareza, não há confiança.
Segundo Matt Abrahams, professor de comunicação estratégica em Stanford, “clareza não é um dom, é o resultado de uma atenção consciente ao que você está dizendo e como está dizendo”. E esse é justamente o ponto que diferencia comunicadores medianos de comunicadores eficientes.
Autopercepção
Diversas pesquisas sobre autopercepção mostram que somos péssimos em nos avaliar. Isso porque o cérebro humano tem dificuldade em processar simultaneamente o conteúdo e o impacto da mensagem. Enquanto falamos, estamos mais preocupados em “terminar de falar” do que em perceber o que está acontecendo no outro lado.
É por isso que criar consciência é treinar o cérebro para sair do modo automático. Devemos aprender a observar os gestos, as pausas, as expressões e o tom de voz com o mesmo cuidado que observamos o conteúdo.
Amy Cuddy*, pesquisadora de Harvard, no TED “Your body language may shape who you are”, explica que o corpo comunica antes da fala. O tom, o ritmo e a postura moldam a mensagem antes mesmo das palavras chegarem. Ou seja, quando você não domina seus próprios sinais, eles falam por você.
Consciência é poder
Quem percebe o próprio ruído tem a chance de fazer os ajustes de rota necessários. Mas atenção: consciência não é autocobrança. É observação. É olhar para si com curiosidade, não com julgamento.
Quando você começa a reparar nos seus vícios de linguagem ou nos gestos repetitivos, como mexer o cabelo, balançar a perna ou evitar contato visual, o objetivo não é se culpar, é entender o padrão.
Esses hábitos não surgem por acaso. Eles são mecanismos de conforto. Formas que o corpo e a fala encontram para preencher o silêncio, controlar a ansiedade ou sinalizar segurança. Só que, com o tempo, passam a roubar atenção.
Criar consciência sobre a própria comunicação é um processo de diagnóstico contínuo. Quanto mais conseguimos identificar o que fazemos no automático (nas palavras, no corpo e no tom), mais controle temos sobre o efeito que geramos. E é desse controle que nasce a clareza, a credibilidade e, principalmente, a confiança que sustenta toda boa comunicação.
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*Se quiser continuar debruçando sobre o tema de linguagem não-verbal, recomendo o livro da Amy chamado O Poder da Presença.



